CDBC ou Moedas Digitais do Banco Central (como o Real Digital) são um tipo de moeda fiduciária digital que busca ganhar espaço aproveitando o poder dos bancos centrais, governos e o enorme impacto que tecnologias como blockchain e Bitcoin obtiveram graças à sua visão de dinheiro digital.
EO nascimento e subseqüente aumento no valor do Bitcoin tem levado o mundo a mostrar seu interesse por essa tecnologia. Uma situação que levou ao aparecimento de dezenas de milhares de criptomoedas; algumas delas com propostas de valor interessantes, mas outras com quase nenhum interesse.
Lembre-se de que o Bitcoin busca deslocar completamente ao dinheiro FIAT, o dinheiro institucional dos bancos. O Fundo Monetário Internacional (FMI) e os bancos centrais estão cientes de que o atual sistema monetário é deficiente, mas eles não querem perder o controle do dinheiro e da economia.
Essa batalha para evitar a perda do monopólio do controle monetário levou ao nascimento das CBDC (Central Bank Digital Currency ou Moeda Digital do Banco Central).
Com isso, busca caminhar para um futuro de dinheiro digital, no qual algumas das limitações do atual modelo monetário desaparecem. Embora, mantendo o controle da economia em um mundo que desconfia cada vez mais de bancos e instituições.
O que são realmente as CBDCs? Elas usam blockchain? Quais são seus prós e contras? Elas existem atualmente? Descubra as respostas para essas e outras perguntas abaixo.
O que é uma CBDC?
Uma CBDC ou Central Bank Digital Currency (em Português, Moeda Digital do Banco Central) é uma forma de dinheiro fiduciário digital emitido pelo banco central de um país e, portanto, tem valor de curso legal nesse país.
As CBDCs procuram dar uma nova cara à moeda fiduciária. Isso junto com funcionalidades semelhantes às criptomoedas, atendendo às necessidades do mundo atual. Mas tudo isso sem deixar de ser um mecanismo de controle, que está nas mãos de poucos.
CBDCs não são criptomoedas, não são Bitcoin. São híbridos, uma resposta de países preocupados com o surgimento de criptomoedas livres no mundo, preocupados principalmente com a perda de seu poder econômico e financeiro no mundo.
São a última tentativa das instituições de se manterem vivas em tempos em que a sociedade já as rejeita de forma massiva.
Isso além do fato de que as CBDCs são uma forma de dinheiro que pode colaborar para alcançar diferentes objetivos políticos, econômicos, geopolíticos e geoeconômicos ao redor do mundo, e onde a espionagem dos cidadãos atingirá níveis nunca antes vistos.
O conceito de CBDC não é algo novo, como o de criptomoedas. A primeira menção de uma CBDC foi feita por James Tobin, no seu jornal “Financial innovation and deregulation in perspective” em 1985. Desde então, a ideia de criar CBDCs sempre esteve no ar, porém foi deixada de lado pelo sentimento de controle que os bancos ainda tinham com o modelo tradicional de dinheiro.
Porém, com o nascimento da Internet, a chegada dos sistemas de pagamento digital e, principalmente, com a chegada das criptomoedas, fizeram com que essas entidades repensassem como continuar a ter o controle do dinheiro. Isso levou ao estudo e emissão das primeiras CBDCs do mundo.
Objetivos das CBDC
Vamos começar resolvendo uma questão básica: Quais são os objetivos das CBDC?
Em princípio, podemos identificar o seguinte:
- Gerar uma nova forma de dinheiro capaz de tirar proveito da nova tecnologia que criamos até agora.
- Facilitar os meios de interação econômico-financeira tanto nacional como internacionalmente.
- Criar novas estruturas financeiras e econômicas capazes de abrir importantes portas de investimentos para as nações e para o mundo.
- Estimular a competição entre diferentes sistemas de pagamento tornando-os mais baratos e com maior alcance.
- Criar mecanismos de controle da política monetária cuja ação é imediata.
- Reduzir o nível de intervenção do Estado nos bancos diminuindo o perigo do problema “Too Big to Fail”. Este é um problema criado pelo medo de que a falência de um grande banco ou empresa derrube a economia. Um sistema digital como o de um CBDC seria menos suscetível a esse problema.
Claro que estes são os objetivos para a economia e finanças, mas também podemos citar:
- Criar uma estrutura que permita rastrear o caminho do dinheiro, desde sua origem até seu último ator em todos os momentos.
- Substituir o anonimato do dinheiro por um anonimato controlado pelas entidades que controlam as CBDCs.
Os objetivos das CBDCs podem variar daqueles descritos acima, dependendo dos interesses do Estado e do banco central que as emite. De qualquer forma, os objetivos declarados anteriormente são as bases para a emissão da maioria das CBDCs existentes atualmente.
Nações, instituições, impérios acabam desaparecendo. Dinheiro central também. Mas Bitcoin é dinheiro livre, de toda humanidade, e é baseado na matemática, que vai durar até o fim da humanidade. No dinheiro centralizado, todas as informações financeiras coletadas serão armazenadas, acabando mais cedo ou mais tarde em mãos erradas. Constantemente existe os Hackings, mas até informações de fontes oficiais podem acabar nas mãos de políticos ruins.
Características das CBDCs
No entanto, os CBDCs, como o dinheiro que conhecemos hoje, afirmam ter certas características para serem reconhecidos como dinheiro. Nesse caso, entre as características inerentes aos CBDCs que costumamos encontrar, podemos citar:
- É possível trocá-lo entre pares (sem o conhecimento do remetente).
- Su aceitação é universal, fato que se respalda em seu marco legal outorgado pelo Estado e pela instituição que o edita. Neste sentido, é lícita a sua posse e utilização por qualquer cidadão.
- Es anônimo e privado.
- seu mandato não rende juros.
No entanto, a maioria dos CBDCs como são propostos não atende a algumas dessas características, e explicamos o porquê:
- Sim, é possível trocá-lo entre pares. Mas esse movimento é conhecimento em tempo real do banco. A estrutura que controla a moeda está sob a gestão dos bancos e, portanto, eles saberão a todo momento que você fez uma transação, o valor, para quem e até em que parte você a fez.
- Não é de acesso livre, os bancos decidem quem tem acesso e quem não tem.
- Muitos CBDCs estão procurando obter um “anonimato controlado” para "enganar" os cidadãos, porém: se você tem que pedir permissão para ter privacidade, você realmente tem esse direito?
- Quanto aos juros, é verdade, o Estado e os bancos não querem que as pessoas acumulem fortunas fazendo staking. A exceção à regra é quando há interesses políticos ou econômicos superiores envolvidos, nessas condições, os juros poderiam ser acionados como uma forma de inflação disfarçada dentro do ecossistema econômico da CBDC. É um novo e revolucionário conceito de dinheiro de helicóptero. Então eles decidem as regras particulares, não trabalhando o mesmo dinheiro para todos.
Como você pode ver, estamos lidando com uma tecnologia e um tipo de dinheiro com o qual devemos ter cuidado. Porque, embora os CBDCs possam ajudar, eles também podem ser uma terrível faca de dois gumes em termos de liberdade e privacidade.
Como funcionam as CBDCs?
O funcionamento de uma CBDC responde à tecnologia e necessidades com as quais foi criada. Em poucas palavras, cada CBDC funciona de forma única e a tecnologia utilizada pode variar de acordo com a forma como foi implementada pelo banco central interessado.
Atualmente, muitos bancos centrais têm se interessado pela tecnologia blockchain e DLT para realizar este tipo de construção. Porque esta tecnologia permite minimizar o risco inerente à criação de sistemas monetários suportados exclusivamente em suporte digital.
Da mesma forma, a tecnologia DLT e blockchain facilita a construção de sistemas interoperáveis com outras moedas, como as criptomoedas mostraram hoje. Além disso, também permitem a implementação de tecnologias que de outra forma seriam mais complexas ou menos flexíveis, como é o caso dos smart contracts.
Um exemplo disso pode ser o projeto HyperLedger da Fundação Linux. Este projeto é promovido por algumas das maiores empresas tecnológicas do mundo, como a Intel, IBM ou Oracle, sem dúvida pesos pesados da indústria.
De qualquer forma, três dos projetos HyperLedger (Fabric, Sawtooth e Burrow) são projetados para aplicar a tecnologia blockchain a vários casos de negócios, e um deles é bancário.
Na verdade, vários sistemas de prova de conceito de moeda digital (CBDC) do banco central foram construídos no HyperLedger Fabric. Um excelente exemplo seria a moeda de Cingapura, o Ubin, e junto com esta outra experiência de origem nipo-europeia, Stella. Com isso, temos uma ideia de quão importante é a tecnologia blockchain e DLT como espinha dorsal da operação de uma CBDC.
Claro, há muito mais por trás da operação de uma CBDC e aqui vamos comentar outros pontos importantes a esse respeito.
Modelos de funcionamento
A operação dos CBDCs dependerá dos objetivos perseguidos por essa moeda. Desta forma, encontramos quatro modelos operacionais:
- Melhorar o funcionamento dos sistemas de pagamento no atacado
- Substituir o dinheiro em papel por uma alternativa mais eficiente
- Melhorar os instrumentos de política monetária disponíveis, principalmente quando se enfrentam ao limite inferior de zero
- Reduzir a frequência e o custo das crises bancárias.
Como você pode ver, cada caso gera (em cinza) diferentes áreas onde as CBDCs são possíveis, cada uma com suas próprias características. Em todo caso, é claro que os objetivos do banco e do Estado definem como uma CBDC funcionará e quais características ele terá em determinados momentos.
Prós e contras de CBDCs
Entre as vantagens das CBDCs podemos citar:
- Em primeiro lugar, uma CBDC permite a criação de sistemas de pagamento, emissão de dinheiro e controle do mesmo de forma muito mais eficiente, mesmo em tempo real. Isso é algo impossível de fazer com a tecnologia atual.
- Por outro lado, as CBDCs podem abrir as portas para uma maior inclusão financeira dos cidadãos de um Estado. Isso se deve ao fato de que seria possível criar carteiras CBDC de uma maneira muito mais simples.
- Geraria um aumento da concorrência em empresas de sistemas de pagamento reduzindo suas taxas.
- Fornecer melhores ferramentas para gerar uma política monetária mais sólida.
Por outro lado, entre as desvantagens podemos identificar:
- Não há legislação clara sobre como CBDCs serão emitidas e controladas.
- Existe conflito entre direitos e liberdades individuais, o uso de CBDCs e sua capacidade de espionar os cidadãos.
- O fato de serem sistemas totalmente digitais abre a possibilidade de que podem ser manipuladas por hackers.
- Inclusão financeira significa manipulação e controle. Já que com o Bitcoin qualquer um pode ter inclusão financeira sem pedir permissão a ninguém.
Uma CBDC não é uma criptomoeda. Não é Bitcoin.
Mas cuidado! É fácil confundir CBDC com uma criptomoeda. Na verdade, suspeitamos que as instituições querem isso mesmo. Se as pessoas pensam que uma CBDC é uma criptomoeda, por que elas prefeririam usar o Bitcoin?
É importante entender que uma CBDC é muito diferente da criptomoeda por excelência, Bitcoin.
- Embora o Bitcoin seja livremente acessível, uma CBDC não é. Nem na participação das confirmações, nem para ter endereço onde ter saldo.
As transações são monitorizadas, criando um padrão de consumo para cada cidadão: o poder de compra, os locais onde consomem, a frequência,... tudo. - A emissão de dinheiro é centralizada, controlada por uma instituição dominada por pessoas que favorecem quem elas quiserem: bancos, empresas, governos... Pense em todas as vezes que houve emissões de dinheiro para "salvar as pessoas" das catástrofes financeiras que os governos criaram, esse dinheiro vai para o povo?
- O dinheiro volta para bancos ou empresas, entre os intermediários todo o dinheiro fica pelo caminho. Por outro lado, no Bitcoin ele é emitido matematicamente, de forma descentralizada para nenhum governo.
- Os poderes sufocam a quem eles não gostam. E a rede de interesses envolve governos, instituições financeiras, empresas,... Pense nos Estados Unidos, e em tantos outros países, e como a pressão deles levou os países à miséria absoluta. Ou pense em como o WikiLeaks tentou ser silenciado de todas as maneiras possíveis, até sufocando-o financeiramente. Com Bitcoin eles não podem sufocar ninguém, seja Wikileaks, Cuba ou qualquer cidadão.
Projetos CBDC hoje
Agora, quais projetos CBDC existem hoje? Atualmente, apenas a Jamaica e as Bahamas possuem uma CBDC totalmente funcional. No entanto, mais de 114 países em todo o mundo começaram a implementar programas para o lançamento de suas próprias moedas digitais do banco central.
Embora seja difícil saber em que estágio de desenvolvimento cada um desses projetos se encontra, existem ferramentas como cbdctracker.org que nos permite acompanhar de perto o status desses projetos.
Você deve ter em mente que todos esses projetos, embora tenham suas nuances, são semelhantes e são construídos no mesmo modelo: Dinheiro Fiduciário (fiat).
e-CNY
El Yuan digital chinês ou e-CNY É a CBDC da China e uma das que mais tem chamado a atenção no mundo. A China é a primeira grande economia do mundo que se comprometeu fortemente a transformar seu dinheiro em uma forma de dinheiro digital. Para conseguir isso, eles optaram pela tecnologia blockchain privada, com um algoritmo de consenso desconhecido.
A realidade é que o e-CNY é atualmente o projeto com maior cobertura da mídia na China, mas sobre o qual sabemos muito pouco. O que sabemos é que a China busca vincular seu atual fiat 1:1, o RenMinBi (RMB) e transformar o e-CNY na moeda nacional e internacional que projeta o poder chinês. Desta forma, a China procura fortalecer sua presença política e econômica em todo o mundo.
A China tem sido por muitos anos um país com uma posição muito contrária à liberação de criptomoedas. Chegou até a perseguir financeiramente os mineradores do país, proibindo o comércio e estabelecendo empresas de criptomoedas em seu território. Apesar de tudo isso, apoia as blockchains privadas sob seu controle político e econômico.
A execução desse projeto cabe ao Banco Popular da China (PboC) em conjunto com um conglomerado de empresas privadas e públicas que atuam como comitê de desenvolvimento dessa moeda. Os sistemas que o yuan digital usará incluem gigantes como Apple Pay China, AliPay e WeChat, tornando a moeda disponível para mais de 1,8 bilhão de usuários em todo o mundo.
O e-CNY está sujeito à lei chinesa e isso traz sérios problemas. Em primeiro lugar, a moeda é declaradamente não anônimaNa verdade, tudo é controlado pelo banco central. Assim, desde a sua entrada no sistema, cada unidade e-CNY que você tenha e que você utilize é de conhecimento do governo chinês.
A situação é pior, considerando que a China reserva-se o direito de vetar e restringir o acesso ao sistema financeiro digital se julgar conveniente para seus interesses nacionais. Na verdade, um pedido é suficiente para congelar todo o sistema e tornar o e-CNY inútil para um país e seus cidadãos caso eles o adotem.
Cadeia EURO
Cadeia EURO por outro lado, é um projeto de investigação do Banco Central Europeu com o qual se pretende reconhecer o potencial de uma moeda digital baseada no euro e emitida pelo BCE. O projeto foi tornado público em dezembro de 2019 por um paper chamado “Exploring anonymity in central bank digital currencies”.
Neste artigo, tecnologias DLT (mais especificamente Corda de R3) são exploradas para a construção de uma CBDC para a Europa. O resultado? Algo muito parecido com o DCEP da China, uma moeda com privacidade controlada pelo governo e com uma estrutura de controle que supera a dos sistemas atuais.
FedCoin
Por outro lado, o FEDCoin é um projeto de moeda digital, mas neste caso realizado pelo Federal Reserve dos Estados Unidos. O projeto dos EUA é impulsionado pela necessidade de competir com o e-CNY da China, seu principal concorrente e ameaça global.
Junto com o FEDCoin, nasceu também o FEDNow, um serviço que busca permitir que bancos e outras instituições negociar moedas dos EUA instantaneamente 24 horas por dia, 7 dias por semana. O serviço pretende ser uma plataforma flexível e neutra que suporta uma ampla variedade de pagamentos instantâneos.
A data de lançamento do FEDNow é 2024. Por sua vez, as primeiras provas de conceito do FEDNow foram lançadas em novembro de 2022 e tiveram a participação de bancos comerciais como BNY Mellon, Citi, HSBC, Mastercard, PNC Bank, TD Bank, Truist, US Bank e Wells Fargo. Por outro lado, os responsáveis pela implementação da tecnologia foram SETL, Digital Assets, Amazon Web Services e SWIFT.
Por outro lado, o governo dos Estados Unidos também está trabalhando na criação de um dólar digital com a colaboração de empresas web3 como a Hyperledger.
Petro
O Petro é uma moeda digital projetada pelo governo venezuelano. Sua criação e implementação é talvez o desenvolvimento de moeda mais controverso que existe. Se você quiser saber tudo o que este projeto contém, leia nosso artigo O que é o Petro? Nele, relatamos todos os pontos de interesse sobre este projeto.
JAM-DEX
A moeda digital do banco central da Jamaica, a JAM-DEX (Jamaican Decentralized Exchange), está em operação desde 2022. O programa piloto foi lançado em maio de 2021 e durou até o final do ano. A CBDC jamaicana visa revitalizar a economia do país e incentivar o uso do dinheiro digital para tentar modernizar um sistema financeiro e econômico baseado essencialmente em dinheiro.
Sand Dollar
Outro país pioneiro no lançamento oficial de uma CBDC foram as Bahamas, com seu Sand Dollar. Em 2019, o Banco Central das Bahamas lançou seu programa piloto oficial, a moeda foi oficialmente colocada em operação em outubro de 2020, sendo a primeira CBDC do mundo.
Outras CBDCs em desenvolvimento
Como dissemos, mais de 100 países estão desenvolvendo seu projeto CBDC e, entre os que já estão mais avançados, podemos encontrar:
- Brasil: Real Digital, desenvolvido pelo Banco Central do Brasil.
- Cingapura: Projeto Urbin, desenvolvido pela Autoridade Monetária de Cingapura.
- Índia: Digital Rupee, desenvolvido pelo Reserve Bank of India.
- e-Naira: a CBDC da Nigéria.
- DCash: uma moeda digital desenvolvida pelo Banco Central do Caribe Oriental.
- E-cedi: Moeda digital de Gana.
- Jasper: o CBDC do Canadá.
- Aber: Desenvolvido pelo Banco Central da Arábia Saudita e pela Autoridade Monetária Central Saudita.
- e-Peso: desenvolvido pelo Banco Central do Uruguai.